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TRUMPONOMICS: OS EFEITOS DAS POLÍTICAS DE TRUMP NO BRASIL

No dia 20 de janeiro, Donald Trump tomou posse como o 45º presidente dos Estados Unidos.

Desde então, ordens executivas restringindo a permanência de imigrantes foram assinadas, o índice Dow Jones subiu à marca recorde de 20.000 pontos, reforma “fenomenal” sobre a taxação de impostos foi prometida e o dólar se mostrou extremamente volátil. Em um cenário que mistura incerteza e euforia no âmbito global, que medidas de Trump afetam o Brasil e quais as possíveis consequências para o país.

O grande mote da campanha da Trump se cercou na mensagem “Make America Great Again” (“Fazer América grande outra vez”, em tradução ao português). Segundo o empresário, a desleal concorrência chinesa, perda de postos de trabalho para imigrantes e injustas relações comerciais estão prejudicando os trabalhadores americanos e inibindo o crescimento do país. Dados de 2016 revelam crescimento do PIB americano de 1,6% – bastante abaixo da média histórica de aproximadamente 3%. Ao mesmo tempo, no último trimestre de 2016, foi registrado o maior nível de consumo já visto no país e baixa taxa de desemprego (perto da taxa considerada de pleno emprego – o ideal para a economia de um país).

A principal medida econômica esperada de Trump é um corte nas taxas de impostos para pessoa física e empresas. O presidente já anunciou que uma reforma “fenomenal” está por vir e, dado o apoio de boa parte dos líderes republicanos do Congresso, é esperado que um projeto de expansão fiscal venha a ser sancionado. O plano fiscal deve estimular o consumo e investimento, incutindo em um significativo crescimento do PIB do país. No entanto, visto a já aquecida economia americana com baixas taxas de desemprego, é esperado uma aceleração da inflação, com o superaquecimento da demanda doméstica. Com os níveis de inflação já acima da meta, o Federal Reserve (Fed) – autoridade monetária do país – deve acelerar o ritmo de aumento da taxa de juros para conter o excesso de demanda.

Nesse sentido, um aumento da taxa de juros americana torna seus títulos mais atrativos, causando uma realocação dos recursos aplicados em diferentes mercados em direção ao norte-americano, levando à retração do nível de investimento nesses países. Segundo o FMI, o Brasil, dentre os latino-americanos, é o país que tem suas perspectivas mais abaladas a partir de uma variação positiva nas taxas de juros americana. A reação do Fed pode vir justamente em um momento inoportuno para o cenário brasileiro: a atuação do Banco Central de intensificar os cortes da taxa Selic para aquecer o consumo doméstico torna o mercado brasileiro menos atrativo para investimentos, o que intensificaria ainda mais o movimento de fuga de capitais do cenário nacional para o norte-americano. O país, que passou por um período recessivo nos dois anos passados e possui expectativa de crescimento de 0,2% para 2017, pode ser significativamente impactado pela medida de Trump e registrar outro ano de recessão.

A retórica de expansão fiscal de Trump animou os investidores americanos em função das maiores perspectivas de crescimento, levando o índice de mercado Dow Jones subir a seu nível recorde de 20.000 pontos. Tal euforia, em conjunto ao aumento esperado das taxas de juros, leva a perspectivas de fortalecimento do dólar frente às principais moedas globais. Em relação à paridade com o real, se antes da eleição a expectativa da cotação para o fim de 2017 girava em torno de R$3,15/US$, após a eleição passou a oscilar em torno de R$3,45/US$. Se consolidada tal flutuação, bens importados chegam mais caros no Brasil e aceleram a tendência de inflação no mercado nacional. Com isso, o poder de compra da população é afetado, aumentando significativamente o custo de vida do brasileiro, que já se encontra em uma situação negativa com a recessão que assola o país.

Ainda em sua primeira semana como presidente dos EUA, Trump assinou ordem executiva de retirada do país do Tratado de Associação Transpacífico (TPP) – acordo de 12 países que beiram o Pacífico e representam um terço do comércio global. Entre outras propostas protecionistas, afirmou reavaliar o acordo NAFTA, que compreende parcerias com México e Canadá, além de aumentar as tarifas de importações de produtos oriundos do México.

Esse isolacionismo de Trump tem gerado um movimento de países em busca de novos acordos comerciais fora do âmbito norte-americano. Em meio a isso, o ministro do Comércio Exterior brasileiro, Marcos Pereira, afirmou que o Brasil já buscou ampliar seus compromissos com diversos países membros do TPP. Em recente encontro no Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer e o argentino Mauricio Macri destacaram o objetivo de promover uma maior integração dos países da Mercosul com o México, numa clara resposta às medidas de Trump. Mesmo que não afete significativamente o comércio brasileiro de modo direto, o protecionismo americano deve gerar efeito indireto, e positivo para o país.

Dentre os tópicos que mais causam polêmica no cenário global, se destaca a postura do presidente frente a questões com imigrantes. Logo em seus primeiros dias de governo, o presidente assinou ordens executivas que impediram a permanência de diversos imigrantes no país e acarretaram na prisão de centenas de pessoas. Em meio a um decreto global de Trump, a situação para brasileiros renovarem seus vistos para viajar aos Estados Unidos já se deteriorou, com regras mais rígidas para as entrevistas no consulado. Além disso, estima-se que há pelo menos 1 milhão de brasileiros em situação ilegal no país norte-americano, o que pode provocar uma tensão entre os países caso estes imigrantes fossem afetados.

Deste modo, a vitória de Donald Trump traz bastante imprevisibilidade para o cenário brasileiro. Mesmo que não sofra de efeitos diretos significativos, as consequências para o país podem ser bastante significativas e permanentes.

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