AS POLÍTICAS PROTECIONISTAS DE TRUMP E SEU IMPACTO NO VALE DO SILÍCIO
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No dia 27 de janeiro de 2017, Donald J Trump assina uma ordem executiva em pleno congresso nacional proibindo temporariamente qualquer cidadão do Iraque, Líbia, Somália, Iêmen, Síria, Irã e Sudão a entrar no país. Todos esses países são de grande maioria muçulmana e apresentaram divergências político-ideológicas com os americanos ao longo dos anos. Tal fato é tido como premissa do presidente para a realização da ordem, sendo uma resposta à crise imigratória mundial e a crescente ameaça do ISIS (Islamic State of Iraq and Syria) e do terrorismo como um todo. A atitude tem sido levada com muita histeria, e tem sido alvo de protestos por parte da população americana. No entanto, quais impactos teriam essa decisão e quem seriam os principais beneficiados? Com certeza não os americanos.
A medida proposta pelo governo Trump tem sido considerada um instrumento precoce e brando para combate ao terrorismo jihadista. A guerra ao terror é algo que nunca esteve tão em pauta no cenário internacional e que se encontra em sua fase mais crítica e delicada, o que traz o questionamento de até que ponto uma proibição imigratória tão específica terá algum efeito em combater um terrorismo paulatinamente mais sofisticado e cada vez mais difícil de combater, dado sua capilaridade generalizada e uso de tecnologias progressivamente mais avançadas. Segundo o Chefe de Gabinete do Estado, Reince Priebus, os países afetados pela proibição são uma direta ameaça para a segurança nacional, e a medida serve para proteger os cidadãos americanos da expansão do ISIS, não descartando a adição posterior de outros países à lista. Tal providência não proíbe a entrada apenas aos refugiados dos 7 países listados, mas também afeta todos os americanos que possuem dupla nacionalidade com algum destes países, podendo dificultar sua permanência e renovação do visto no país, o que afetaria muito mais do que os 90,000 imigrantes destes 7 países que adentraram o país em somente em 2015.
As deliberações propostas pelo governo de Donald Trump podem ainda ter significado um retrocesso no que diz respeito ao futuro do desenvolvimento tecnológico e da manutenção da diversidade cultural no país. A medida vai contra toda a ideologia de globalização e união pregada por diversos países desde o pós-guerra, que influenciou a criação de grande parte dos blocos econômicos, como a União Europeia, e a formação de acordos político-comerciais entre as principais nações do globo. Considerando que esta atitude de Trump pode ser um indício da nova postura norte-americana frente a seus parceiros internacionais e que, ao longo de seu mandato, essa postura será mantida, pode haver impacto negativo em todo o desenvolvimento econômico do país. Isto é, a resposta protecionista de Trump e de seus estrategistas frente a crise imigratória afeta diretamente a preservação da pluralidade de culturas e ideologias que guiam o progresso do país, prejudicando muitos empreendedores e empresas que necessitam de capital humano especializado, principalmente em áreas extremamente dependentes da diversidade ideológica, tais como o Vale do Silício.
O Vale do Silício é conhecido como o “berço” de toda a revolução tecnológica a partir dos anos 1950, sendo o principal polo tecnológico do mundo. O Vale abrange toda a região em volta da Baía de San Francisco e engloba diversas cidades no sul da Califórnia, como Palo Alto e Santa Clara. Seu desenvolvimento se deu em parte por incentivos governamentais durante a guerra fria, principalmente após o lançamento do Sputnik I pela Rússia, o que originou a criação da NASA e toda a demanda por inovação e desenvolvimento em tecnologia em prol da corrida armamentista.
Ainda, vale ressaltar que o progresso tecnológico do Vale se deu, principalmente, em razão do contínuo processo de retenção de capital humano extremamente especializado. A concentração das melhores mentes do mundo tecnológico em um só local desde 1950, provenientes das melhores universidades, tais como Stanford e UC Berkeley, conhecidas pela sua diversidade e implementação de uma cultura empreendedora aberta e propensa ao risco, fizeram do Vale o precursor da cultura dinâmica e inovadora que revolucionaria toda a indústria tecnológica e, consequentemente, o mundo.
Habituadas a tal contexto, as empresas do Vale do Silício fazem da busca por talentos a sua maior prioridade. Como dito por John Sullivan, estrategista de recursos humanos e professor de negócios da San Francisco State University: “ Não são os prédios, a localização, nem o equipamento que fazem as empresas de tecnologia sobressaírem em inovação. Mas sim, a qualidade e as capacidades das pessoas que as mesmas atraem e retém.”. O número de empresas e startups do ramo de tecnologia cresce a cada ano, assim como a demanda por talento e mão de obra qualificada. De acordo com Rachael Massaro, vice-presidente da Joint Venture (consultoria especializada em assuntos daquela região), “Os Estados Unidos, não conseguem suprir à demanda sozinhos. Por esse motivo, se dá a importância e a necessidade da diversidade e captação de talentos mundo afora”. Necessidade esta, afetada diretamente pela proibição imigratória de Trump.
Não obstante, ainda segundo pesquisas da Joint Venture, 37,4% dos residentes do Vale do Silício são imigrantes, quase três vezes maior que a média dos EUA de 13,3%. A diferença se torna ainda mais alarmante entre os empregados com idade de 25 a 44 anos, onde a taxa chega a beirar os 50%. Tal abundância de culturas e diferentes pontos de vista foi essencial para a criação de uma mentalidade extremamente liberal e comprometida com a meritocracia, onde a qualidade, e não a procedência, das ideias é valorizada, fomentando assim a inovação e o desenvolvimento.
Porém, não só como empregados que os estrangeiros contribuem com a inovação, segundo reportagem do Valor Econômico, a estimativa é que 50% das startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, os chamados unicórnios, tenham sido fundadas por imigrantes. Na lista, estão, Sergey Brin (russo, fundador do Google), Eduardo Saverin (brasileiro, co-fundador do Facebook) e Mike Krieger (brasileiro, fundador do Instagram) dentre vários outros. A maneira com que a diversidade é gerenciada por essas organizações é crucial para o desempenho frente a inovação. Segundo a teoria do comportamento organizacional: “O gerenciamento da diversidade dentro de uma organização, é o processo de gerenciamento de pessoas que envolve a habilidade de se valorizar características singulares de cada indivíduo, incorporando suas peculiaridades como algo positivo e necessário para que se atinja o desempenho”.
Deste modo, é razoável inferir que as novas regras, implementadas pelo presidente Trump, que visam dificultar a entrada e permanência de imigrantes no território norte-americano, é uma afronta direta à preservação da cultura e diversidade intelectual presente em todo o país, principalmente no Vale do Silício. Tal ruptura, vista na maioria das vezes como algo positivo e necessário no mundo da tecnologia, coloca toda a indústria em estado de alerta. Mostrando que esse conflito está longe de ver seu fim, e que, sob o governo Trump, o futuro do empreendedorismo e inovação no mundo é incerto.
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